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Foto do escritorLeonor Alhinho

Atelier do Quinto Andar: ensino, bordado e ensino de bordado

Maria Valente tem 28 anos, é de São João da Madeira e é fundadora do Atelier do Quinto Andar. Entre as áreas do ensino e da comunicação, nunca largou a paixão por artes manuais e fundou este projeto dedicado a uma arte que, infelizmente, é por muitos esquecida: o bordado.


Girafas e frase bordadas; Pormenor de mapa bordado. Imagens fornecida por Maria Valente


Depois de uma licenciatura em Educação, Maria foi trabalhar para um colégio, na Ilha de Santiago, em Cabo Verde. Após um ano a lecionar, percebeu que queria aprofundar o seu conhecimento noutras áreas e acabou por escolher Jornalismo. Ingressou no Mestrado em Jornalismo e Comunicação, na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, e estagiou no Jornal Público.


Apesar deste percurso na Educação e no Jornalismo, nunca deixou que a chama artística se apagasse. Confessou-nos, inclusive, que, outrora, ponderou seguir Artes. Apesar de este sonho não se ter materializado pela via académia, na prática continua cá, nomeadamente através da fotografia. Aliás, em Cabo Verde chegou a fazer uma exposição que resultou na compra de quatro das suas obras por parte do Mistério da Cultura de Cabo Verde, para que integrassem a coleção de arte. Hoje, leciona aulas de Português a estrangeiros e refugiados e, paralelamente, tem o Atelier do Quinto Andar.


Animais bordados; Fotografias de famílias bordadas; Flores bordadas. Fotografias fornecidas por Maria Valente.


Mas como surgiu o Atelier? A pandemia fez com que Maria, assim como muitos outros, estivesse parada durante alguns meses. Depois do estágio no Público, teve grandes dificuldades a encontrar trabalho na área. Porém, isso não a deixou inerte, mesmo que tenha significado testar outros caminhos. Inscreveu-se num workshop básico de bordados, de apenas 3h, “só por curiosidade” e adorou. O bordado tornou-se, então, “como um refúgio da vontade de trabalhar com as mãos”, vontade esta sempre presente. O Atelier do Quinto Andar nasceu, então, em Abril de 2020, obra de todo o feedback positivo dos trabalhos que ia partilhando ou oferecendo a amigos e família. O nome deveu-se a, na altura, ter um escritório no quinto andar de um prédio.


Pedimos que nos guiasse pelo processo de um bordado e, aqui, disse-nos que o primeiro passo é o desenho, seja ele baseado numa fotografia (para fazer fotografia bordada) ou não. De seguida, envia o desenho ao cliente, para aprovação ou para eventuais alterações. Só depois de aprovado, passa o desenho para o tecido e, por último, borda por cima do desenho. Até há bem pouco tempo apenas trabalhava com encomendas de fotografias bordadas, mas, recentemente, começou a aventurar-se por trabalhos da sua autoria. Este ano, para além das encomendas de Natal, está a desenvolver peças próprias, em pareceria com um escritor.



Fotografia da artista, fornecida por Maria Valente


O bordado é, de facto, uma arte demorada. Cada trabalho exige um tempo diferente, não há uma fórmula única ou um número de horas concreto. Contudo, confessa que já demorou mais de 10h em certos projetos. Aproveitou este tema para realçar a importância de se falar da mora do processo. Isto porque se vê, várias vezes, obrigada a pedir aos clientes que façam as encomendas com alguma antecedência. É um processo cuidadoso, que não pode ser feito à pressa. E quais são os pedidos mais frequentes? Definitivamente, as fotografias bordadas e, felizmente, também são os que lhe trazem mais prazer, por se tornarem “uma memória muito bonita, sem igual”. Comummente, surgem em épocas festivas como Natal e o Dia da Mãe, mas também esporadicamente para aniversários.


Tentámos, de seguida, perceber quanto custa uma peça bordada. Antes de nos responder, referiu alguns fatores que influenciam a variação do preço ao longo do tempo. Enalteceu, primeiro, a sua capacidade. Do início do atelier até agora já fez cursos, melhorou técnicas, acabamento e embalagem e, naturalmente, isso justifica um aumento do preço. Para além disso, a recente inflação do custo de vida também mexeu no preço final- “uma linha de meada que eu comprava a 80 cêntimos, agora custa-me 1,20€”. As fotografias bordadas são o trabalho mais caro por causa de todo o processo referido que precede o ato de bordar. Uma fotografia bordada com duas pessoas, com moldura e embrulho prontos a oferecer, nunca custa menos de 33€. Cada pessoa, frase ou enfeite a mais acrescem ao preço. Não obstante, há outros trabalhos mais acessíveis, que não envolvem tanto trabalho inicial.


Quadros de frases bordados; Arco-íris bordado; Exemplos de pontos de bordado. Imagens fornecidas por Maria Valente


Questionada sobre se o bordado é uma arte e se tem uma idade associada, a artista referiu que, talvez, para pessoas de mente mais fechada, o bordado de facto tenha uma idade associada. Infelizmente, ainda há muita gente que não acredita que haja jovens interessados nesta arte manual o que é, na ótica de da dona do Atelier, uma perspetiva “completamente ultrapassada”. Esta perspetiva leva a que, muitas vezes, o bordado não seja visto como uma forma de arte ou, pelo menos, uma forma de arte merecedora de apoio. A artista referiu que o bordado nunca está contemplado em programas de apoio ou concursos: “Gostava que não fosse assim, mas acho que é assim”.



Fotografia da artista, imagem fornecida por Maria Valente


Juntando a formação em Educação, em Comunicação e o gosto pelo bordado, a artista de bordados confessou ter gravado um curso de bordado totalmente online, num estúdio em Lisboa. Com lançamento previsto para Janeiro, este vai ser, nos próximos tempos, um dos principais produtos do Atelier do Quinto Andar. Apesar de já ter lecionado cursos de bordado online, fê-lo apenas em direto. Este novo curso foi gravado e, portanto, tem a opção de ser “self-paced”, isto é, aprendido ao ritmo de cada um, de modo a que as pessoas possam ver quando querem ou quando lhes dá mais jeito. Confessa que foi um grande passo que deu e que está ansiosa para ver como corre. Resta-lhe desejar que, idealmente, esta iniciativa “alargue o leque de pessoas que gostam desta arte”.


Para saberem mais sobre o Atelier do Quinto Andar e os seus trabalhos, visitem as redes sociais de Instagram e Facebook.

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