Os anos podem passar, mas a história permanece a mesma, construir carreira e adquirir reconhecimento lá fora e talvez um dia, voltar. Falamos com Júpiter D’Oliveira, atriz residente em Londres, à cerca da realidade de um artista português no estrangeiro.
De acordo com o Relatório da Emigração 2020[MG1], elaborado em 2021 pela Secretaria de Estado das Comunidades Portuguesas, Portugal continua a ser um dos países europeus com números mais elevados de emigração. Em 2019, cerca de 2.6 milhões de portugueses residiam no estrangeiro, o que corresponde a cerca de 25.7% da população do país.
Os números de emigrantes continuam a aumentar e são constantes os apelos das Comunidades Portuguesas no Estrangeiro para que o Estado lhes dedique mais atenção. [MG1] Esta falta de atenção também é notória quando olhamos para a realidade dos artistas portugueses no estrangeiro. Não existem dados em relação a esta comunidade de artistas, que, tal como muitos outros emigrantes, sai de Portugal à procura de trabalho e reconhecimento.
Júpiter vive em Londres desde os 18 anos, estudou Artes Cénicas na Middlesex University e, recentemente, fez parte do elenco da peça ‘A Murmuration of Starlings’. A atriz optou por ir diretamente para Londres e concretizar a sua formação académica lá.
“Eu queria estudar artes, artes cénicas, teatro, artes performativas e em Portugal sempre senti que a arte e a cultura não eram valorizadas.”
Segundo Júpiter, apesar de a formação em teatro ser boa em Portugal, de nada lhe serviria visto ser extremamente difícil arranjar trabalho na área.
“Em Portugal a concorrência é injusta e existem imensas pessoas sem formação que estão na indústria e saltaram um monte de etapas, ou por já terem fama prévia ou por terem pais e conhecidos no ramo.”
Para além da falta de oportunidades, Júpiter D’Oliveira refere que existe também falta de interesse por parte dos portugueses.
“Há inúmeras iniciativas cá [Londres] para jovens artistas. Isso não acontece em Portugal, quanto muito temos espetáculos espaçados de algumas escolas de teatro em que aparecem os pais e os amigos, mas o público não se interessa, não sai à rua. Algo que se percebe, a prioridade monetária da população portuguesa não é ir ao teatro, existem inúmeros fatores socioeconómicos que entram nesta questão.”
Quando perguntámos a Júpiter se conhecia outros jovens artistas na mesma condição que ela, a atriz disse-nos que sim, a maioria dos jovens artistas que conhecia tinham saído de Portugal e pareciam partilhar das mesmas opiniões.
“Não sentimos que nos é dado o devido valor, nem só valor, parece impossível realizares-te enquanto artista em Portugal.”
A falta de reconhecimento é um problema que há muito se fala em Portugal. Artistas de renome, como Paula Rego, Carmen Miranda, Joana Carneiro, os Moonspell, entre muitos outros, constroem carreira no estrangeiro, mas o seu eco parece não chegar, ou chegar tarde, a Portugal. De facto, entre 2015 e 2016 o Museu de Arte Contemporânea do Chiado[MG1] desenvolveu uma iniciativa que consistia num ciclo de exposições de jovens artistas portugueses no estrangeiro. Este projeto, ECHOES[MG2] , terminou em fevereiro de 2016 e desde então nunca mais se ouviu falar de uma iniciativa que promovesse o trabalho de jovens artistas. Já lá vão seis anos. Júpiter, tal como tantos outros artistas, sonha em desenvolver projetos em Portugal, mas o regresso fica sempre em aberto.
“Talvez um dia volte.”
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