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Foto do escritorMargarida Gonçalves

Artistas Deslocados: 'Longe da Nação, Longe do Coração'

Atualizado: 11 de dez. de 2022

Os anos podem passar, mas a história permanece a mesma, construir carreira e adquirir reconhecimento lá fora e talvez um dia, voltar. Falamos com Júpiter D’Oliveira, atriz residente em Londres, à cerca da realidade de um artista português no estrangeiro.


De acordo com o Relatório da Emigração 2020[MG1], elaborado em 2021 pela Secretaria de Estado das Comunidades Portuguesas, Portugal continua a ser um dos países europeus com números mais elevados de emigração. Em 2019, cerca de 2.6 milhões de portugueses residiam no estrangeiro, o que corresponde a cerca de 25.7% da população do país.

Retirado de ‘Relatório da Emigração 2020’ (novembro de 2021)

Os números de emigrantes continuam a aumentar e são constantes os apelos das Comunidades Portuguesas no Estrangeiro para que o Estado lhes dedique mais atenção. [MG1] Esta falta de atenção também é notória quando olhamos para a realidade dos artistas portugueses no estrangeiro. Não existem dados em relação a esta comunidade de artistas, que, tal como muitos outros emigrantes, sai de Portugal à procura de trabalho e reconhecimento.

Júpiter D’Oliveira, Ensaios de “A Murmuration of Starlinggs” (2022), imagem fornecida pela própria

Júpiter vive em Londres desde os 18 anos, estudou Artes Cénicas na Middlesex University e, recentemente, fez parte do elenco da peça ‘A Murmuration of Starlings’. A atriz optou por ir diretamente para Londres e concretizar a sua formação académica lá.


“Eu queria estudar artes, artes cénicas, teatro, artes performativas e em Portugal sempre senti que a arte e a cultura não eram valorizadas.”




Segundo Júpiter, apesar de a formação em teatro ser boa em Portugal, de nada lhe serviria visto ser extremamente difícil arranjar trabalho na área.


“Em Portugal a concorrência é injusta e existem imensas pessoas sem formação que estão na indústria e saltaram um monte de etapas, ou por já terem fama prévia ou por terem pais e conhecidos no ramo.”


Para além da falta de oportunidades, Júpiter D’Oliveira refere que existe também falta de interesse por parte dos portugueses.


“Há inúmeras iniciativas cá [Londres] para jovens artistas. Isso não acontece em Portugal, quanto muito temos espetáculos espaçados de algumas escolas de teatro em que aparecem os pais e os amigos, mas o público não se interessa, não sai à rua. Algo que se percebe, a prioridade monetária da população portuguesa não é ir ao teatro, existem inúmeros fatores socioeconómicos que entram nesta questão.”


Quando perguntámos a Júpiter se conhecia outros jovens artistas na mesma condição que ela, a atriz disse-nos que sim, a maioria dos jovens artistas que conhecia tinham saído de Portugal e pareciam partilhar das mesmas opiniões.


“Não sentimos que nos é dado o devido valor, nem só valor, parece impossível realizares-te enquanto artista em Portugal.”


A falta de reconhecimento é um problema que há muito se fala em Portugal. Artistas de renome, como Paula Rego, Carmen Miranda, Joana Carneiro, os Moonspell, entre muitos outros, constroem carreira no estrangeiro, mas o seu eco parece não chegar, ou chegar tarde, a Portugal. De facto, entre 2015 e 2016 o Museu de Arte Contemporânea do Chiado[MG1] desenvolveu uma iniciativa que consistia num ciclo de exposições de jovens artistas portugueses no estrangeiro. Este projeto, ECHOES[MG2] , terminou em fevereiro de 2016 e desde então nunca mais se ouviu falar de uma iniciativa que promovesse o trabalho de jovens artistas. Já lá vão seis anos. Júpiter, tal como tantos outros artistas, sonha em desenvolver projetos em Portugal, mas o regresso fica sempre em aberto.


“Talvez um dia volte.”


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