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A Profissão Que Tarda Ser Profissão

  • Foto do escritor: Maria Vieira
    Maria Vieira
  • 15 de jan. de 2023
  • 4 min de leitura

As tatuagens para muitos é dinheiro mal gasto, uma aberração, conectadas a gangues e criminosos, muito pela influência do cinema. Mas os tempos mudaram. As tatuagens são atualmente algo único a cada um de nós e como toda a arte, altamente subjetivas. Mais uma liberdade ganha, onde a pintura em pele cada vez mais se normalize e tão bom que é, transformar corpos em telas. É uma arte que existe há mais tempo do que se imagina. As primeiras foram encontradas há cinco mil anos antes de Jesus Cristo, mas quem conta tão para trás?

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Penumbra I - Yakuza Tattoos

O importante é que ao menos os tempos evoluem e cada vez mais as tatuagens começam a ser aceites pela sociedade, tendo se assim afastado das conotações negativas, onde antes eram ligadas a gangues ou muito específico a certas culturas. Por exemplo, os Yakuza, a mafia japonesa, sempre teve as tatuagens que cobriam as costas e são únicas a este país. A nível de cultura, os Maori, na Nova Zelândia. As tatuagens sempre tiveram significados diferentes, e em vez de serem sinais de pertença a uma cultura, passaram a ser algo único e individual a cada um, dando a liberdade de encararmos o nosso corpo como uma tela.


Mais uma arte que só passou a ser arte há pouco tempo. Já devia de ser reconhecida como tal há mais de um século, mas há quem ainda combata a ideia.


Ao menos já é considerado profissão, mas o vazio legal continua a trazer preocupações a estes profissionais que apenas querem exercer a sua arte livremente. Muitos esquecem-se que tatuagens lidam com materiais orgânicos de perigo, e se não forem cuidadamente descartados é um perigo para a saúde pública.


Ainda existe falta de conhecimento na área, no entanto o número de pessoas conhecidas que já se tatuaram, cresce todos os dias. Na europa, segundo a European Chemicals Agency [ECHA], pelo menos 54 milhões de pessoas estão tatuadas.


Com a emergência desta arte, foi apenas em 2015, que a comissão europeia finalmente chega-se à frente. A proposta de restrições, no entanto, avançou em 2017. Só que a decisão da EU e dos Estados-Membros foi apenas adotada em 2020.


Segundo a ECHA, “a restrição harmoniza as medidas relativas às substâncias químicas utilizadas nas tintas de tatuagem e na maquilhagem permanente ao nível da EU e assegura que todos os cidadãos da EU se encontra, igualmente protegidos contra as mesmas.”


Esta lei europeia, como quase tudo, tardou a chegar a Portugal e mesmo assim deixou muito que desejar. Até hoje ainda não existe regulamento específico para este ofício, mas a luta continua.


Para já, um estúdio de tatuagem é considerado uma loja, ou seja, tatuadores precisam de licenças, livros de reclamações, mas não existem indicações para medidas de prevenção higiénicas, medidas de segurança do estúdio e qualquer pessoa o pode fazer sem certificados.


Revisitando a entrevista a Diogo Paixão, realizada pelo Penumbra, o ilustrador também se aventurou nas tatuagens e explicou um pouco de como é ser-se tatuador em Portugal.


“O que sei é que é uma profissão que não está regulada de maneira nenhuma, não tem carteira profissional. Sei que há pessoas a tentar que isso aconteça, mas sim, claro que isso traz uma instabilidade maior.”


Podes ler a entrevista no post relacionado a este artigo.


Para nos falar mais sobre este assunto, e sobre o estado desta arte, falamos com Isabel Lage, tatuadora de profissão.


"Sou licenciada em Design de Comunicação, mas desde de 2018 que trabalho como tatuadora."


Quando começaste a tatuar já existia CAE?

Sentes que a tua profissão é reconhecida pela sociedade?

"Acho que a maior parte das pessoas não vêm um tatuador como profissão, muitos deles me perguntam se eu faço isto da minha vida, se é a minha única fonte de rendimento, porque não a conseguem ver com credibilidade."


Começaste a contrato ou freelancer? Vives de recibos verdes?

"Nunca trabalhei a contrato nem como freelancer, porque desde o início que não queria trabalhar com recibos verdes."


"Para mim fez mais sentido ser trabalhadora independente."



Quando começaste a tua carreira onde é que encontraste a informação necessária para exerceres a profissão? Tinhas alguns receios?

"Foi uma pesquisa complicada e acho que essa falta de informação, era onde eu tinha mais receios."


"É mais difícil encontrar informação sobre a profissão na visão do Estado, do que sobre higiene, saúde e segurança no trabalho."


Lembro-me de referires a falta de higiene

e como a Câmara do Porto não vos designou um sítio

próprio para descartarem as seringas. Estou correta? Ainda acontece?

"O meu medo relativamente a este assunto é a falta de informação e também o valor que é pedido para fazer o tratamento dos materiais descartáveis, que muitas vezes não é acessível a todos os profissionais de tatuagem."


Achas que a Câmara e o Estado tomaram as devidas medidas a tempo?

"A profissão de tatuador foi algo que teve um bossa muito grande nos últimos anos."


"Acho que ainda é muito difícil procurar essa informação."



Tens algum conselho para tatuadores que estejam a começar agora?

"Informem-se."


"É uma profissão que, pode não parecer mas, dá muito trabalho."


"Não obrigação de perceber a parte toda burocrática, mas tem que ter alguém na sua equipa que o faça."


Quais é que são as vantagens e desvantagens do ofício?

"Sou um bocado suspeita para falar sobre isso. Neste momento só vejo vantagens."


"Mas claro que vejo desvantagens, como o atendimento ao público ser sempre inconstante."


Notei um distinta falta de notícias sobre a profissão,

gostavas que isso muda-se?

Achas que haveria mudança de mentalidade se os orgãos de comunicação informassem os cidadãos sobre a arte e profissão?

"O desinteresse por esta profissão abrange também os orgão de comunicação."


"Existe também uma falta de interesse."



Fazes parte do sindicato dos tatuadores?

Achas que eles tiveram e têm um papel importante

nas mudanças da profissão?

"Eles tiveram um papel importante na mudança da profissão, mais a nível interno."


"Durante a pandemia principalmente, que foi quando, se não me engano, o sindicato foi criado."


O que mudavas amanhã para seres melhor profissional?

"Aumentava a minha equipa se pudesse e fosse rentável. Também de tatuadores, mas principalmente da parte da comunicação, pois é desgastante e iria melhorar a minha vida pessoal e como profissional."




Queres deixar uma última mensagem a todos os nossos leitores?

"Não tenham medo de fazer tatuagens. É uma profissão segura e devidamente higienizada."


"Informem-se do que é preciso saber antes de irem fazer uma tatuagem, como é que por exemplo o local deve estar preparado para vocês."


Se gostaste do trabalho da GLUM Tattoer, podes segui-la no Instagram e ver todo o seu portfólio e marcar a tua próxima tatuagem.


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